quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Análise sobre o tamanho do Futebol Brasileiro, sua economia tentadora e sobre os "intrusos" no mercado nacional do futebol

A estratégia de migrar ou se aproximar de mercados mais lucrativos mais uma vez tem dado as caras no meio do futebol. Recentemente, houve um interesse do Flamengo em entrar no mercado paulista, dominado por Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos, como uma forma de aumentar ainda mais sua visibilidade e sua receita com patrocínios, uma vez que o mercado paulista é o mais "caro" e valorizado do país. Para isso, o Flamengo tentou mandar alguns jogos na capital paulista, não apenas para satisfazer a boa quantidade de flamenguistas em São Paulo (que segundo o Datafolha, gira em torno de 2% da população paulista), mas também para aproximar o clube carioca da atenção da mídia paulista e de uma forma geral, manter-se presente no maior mercado publicitário do Brasil.

Dessa vez, é o Boca Juniors que está descobrindo o mapa da mina e que pretende ser o novo "intruso" da vez. E o caminho para aumentar suas receitas é o Brasil.

Começaram com a disseminação de escolinhas pelo território brasileiro, quatro só na cidade de São Paulo (no total já são onze unidades no Brasil, de acordo com o próprio Boca Juniors, que possui um site voltado para brasileiros). E mais recentemente, ocorreram alguns fatos que expressam o real interesse e importância que o mercado brasileiro representa para o clube mais popular da Argentina.

Neste mês de novembro, o Boca Juniors fechou um patrocínio com a CVC, empresa de turismo, para ser o patrocinador do time feminino na Copa Libertadores Feminina, segundo informações do site Maquina do Esporte. Valores que pareciam comuns às equipes brasileiras, foram grandiosos para o clube argentino, acostumado com outra realidade. A negociação partiu da própria empresa, que acabou fechando também com a equipe feminina do Santos. O valor (não divulgado) para o Boca foi surpreendente, muito maior do que alguma empresa argentina poderia pagar no Campeonato Argentino de Futebol Feminino. Talvez aí tenha caído a ficha boquense em relação ao tamanho do mercado brasileiro.

Ainda conforme divulgado pela Maquina do Esporte, o Boca Juniors deve continuar o processo de aproximação do mercado brasileiro, de olhos atentos à grandiosa expansão da economia brasileira e de seus valores acima de qualquer padrão sulamericano.

Veja trechos da matéria que evidenciam a vontade de retornar ao Brasil e buscar recursos por aqui:

"Nós já estivemos no ano passado, e agora queremos aproveitar os anos de impulso por causa da Copa do Mundo para nos aproximarmos de outras empresas, como fizemos com a CVC", explica Santiago Tezanos Pinto, gerente de marketing e comercial do time, em entrevista concedida à Máquina do Esporte no estande do clube no evento.

O próximo passo do clube é fazer pré-temporadas no Brasil, para tentar angariar investidores brasileiros, que costumam pagar muito mais que na Argentina.

"Por contrato, temos de jogar na Argentina, mas ele termina agora, e em 2013 poderemos fazer um tour no Brasil em janeiro", explica Santiago Tezanos Pinto, gerente de marketing e comercial do Boca Juniors. O time esteve, inclusive, na Soccerex do Rio de Janeiro, finalizada na última quarta-feira (30), em busca de amistosos.

A feira de negócios no futebol tinha como principal propósito, no caso da equipe argentina, expor a marca da equipe para o mercado brasileiro. Mas, como havia a presença de diversos times da elite brasileira, o Boca aproveitou para gerar relacionamento e preparar território para visitar o Brasil novamente. Dessa vez, não só o Paraná.

Para entender melhor o tamanho do mercado brasileiro, vamos pautar a matéria por diferentes elementos que provam o distanciamento dos países sulamericanos para o Brasil.

Veja também:
Clubes grandes do Futebol Argentino


Mercados

Cotas de Televisão

Para se ter uma idéia do tamanho do mercado do futebol brasileiro, comparamos os valores de cotas de TV pagos no Brasil e Argentina com os pagos na Espanha, uma das ligas mais ricas do mundo. Os valores brasileiros ficam praticamente equiparados aos clubes do Grupo 2 da Espanha, enquanto o primeiro escalão argentino fica mais próximo de cotas da nossa Série B.

Espanha

Na Espanha, que possui uma das ligas de maior valor de mercado do mundo, atualmente a repartição anual da cota de TV dos principais clubes é assim:

Grupo 1: Real Madrid e Barcelona - 140 milhões de euros


Grupo 2: Atlético de Madrid e Valencia - 42 milhões de euros



Brasil 

No Brasil, as cotas anuais dos principais clubes em 2012 devem ficar em torno de (em reais):

Grupo 1: Corinthians e Flamengo - 84 milhões (podendo chegar aos 114 milhões com bônus por audiência e PPV)

Grupo 2: São Paulo, Palmeiras, Santos, Vasco - 70 milhões (podendo chegar a 95 milhões com o PPV)

Grupo 3: Fluminense, Botafogo, InternacionalGrêmio, Cruzeiro e Atlético Mineiro - 55 milhões (podendo chegar a 71 milhões com o PPV)

* De acordo com os valores publicados pela Revista Placar e seguindo mais ou menos aqueles 18% de diferença de um grupo para o outro, revelados pelo presidente do Grêmio, Paulo Odone, e pelo Lancenet (clique para saber mais).


Argentina

Na Argentina, as cotas anuais de TV dos maiores clubes foram distribuidas da seguinte forma em 2011: 600 milhões de pesos argentinos (equivalente a R$ 230 milhões de reais) com tendência a se repetir em 2012.

Grupo 1: Boca Juniors e River Plate - 11,5 milhões de reais

Grupo 2: San Lorenzo, Independiente, Racing e Vélez Sarsfield - 8,8 milhões de reais

Grupo 3: Estudiantes, Newell's Old Boys, Argentinos Jrs, All Boys, Huracán e demais clubes da primeira divisão argentina - 6 milhões de reais

* Informações do Portal Extra/ Globo.


Analisando os valores de cada país, quando comparadas as cotas de TV dos clubes de Brasil e Argentina em 2011, Boca Juniors e River Plate ganham menos que uma Portuguesa, que na Série B do Campeonato Brasileiro, embolsou cerca de R$ 15 milhões em 2011, assim como outros sete clubes do Clube dos 13. E ano que vem deve ganhar cerca de 18 milhões de reais.

O que é ainda mais impressionante é que, enquanto o Boca Juniors possui 40% dos torcedores argentinos (16 milhões de torcedores), a Portuguesa não alcança 0,3% da preferência nacional. 


Patrocínios

Com relação aos valores de patrocínios, não é diferente do que acontece nas Cotas de TV.

No Brasil, qualquer clube do G12 recebe por volta de 10 milhões ou mais só pelo patrocínio master. Somando todos os patrocinios, um clube grande do Brasil arrecada pelo menos 15 a 20 milhões anuais. Já os clubes do eixo Rio-São Paulo conseguem valores bem acima disso, alguns beirando os 50 milhões, como é o caso do Corinthians. O Boca Jrs recebe da LG 2,5 milhões de dólares por ano. No total, arrecada pouco mais de 5 milhões de reais por ano com patrocínios de camisa. É abissal a diferença.

Por conta de tudo isso, o Boca Juniors já sabe do tamanho desse mercado, e por isso tambem quer tirar uma casquinha para não ficar muito para trás dos clubes brasileiros, além de aproveitar para aumentar a diferença econômica para os demais clubes da Argentina.

ATUALIZAÇÃO: O banco BBVA Francés (banco argentino privado) fechou um acordo para ser o novo patrocinador máster do Boca Juniors no ano de 2012, em um acordo anual de 4,5 milhões de dólares. Já o rival River Plate receberá US$ 3,5 milhões.  Com informações do Máquina do Esporte.


Emissoras de TV

Até as emissoras de TVs estrangeiras perceberam a diferença de mercado do Brasil para o restante da América Latina.

Prova disso é a Fox Sports, que está quebrando um "acordo de cavalheiros" ou podemos chamar de "cortina invisível de interesses" com a Rede Globo. Está botando as caras no mercado brasileiro, mesmo sob ameaças da Globo de levar o Sportv pra América Latina.

Antes, havia um acordo invisível onde cada macaco ficava no seu galho. A Fox cobria toda a América Latina e a Globosat cobria o Brasil. Mas o Brasil e seu mercado são maiores que a América latina inteira, incluindo México e Argentina. 

O tamanho das cotas de TV e os valores dos anuncios pagos pelas empresas na TV brasileira são muito maiores que os valores pagos nas TVs argentinas. As cotas que a Fox e outras emissoras argentinas pagam para os clubes argentinos, mexicanos, colombianos etc. são menores que as cotas pagas pela Globosat. O anuncio no intervalo comercial no Brasil é muito mais caro e lucrativo para a Globo do que os comerciais nos canais da Argentina e México pois as empresas argentinas (principalmente) não dispõem de tanto capital assim, além do mercado ser pequeno, tornando inviável pagar mais do que pagam atualmente.

Os gringos "intrusos", e nisso se inclui tanto os clubes como as TVs, estão descobrindo o nosso mercado, e com olhos gordos, visando o lucro. A Copa do Mundo e as Olimpiadas ajudam ainda mais nessa valorização do mercado esportivo no Brasil, que será o foco do mundo esportivo nos próximos anos. À medida que a nossa economia cresce, os valores do mercado do futebol brasileiro seguem no mesmo ritmo, e agora trazendo consigo os gringos latinos, que não são bobos nem nada, e querem participar da festa.


3 comentários:

  1. Ótimo post amigo, muito esclarecedor, à tempos eu procurava por um espaço com esse tipo de noticiário, com embasamento, fontes reais e com exemplos claros, continue com esse belíssimo trabalho, já sou um seguidor e leitor do seu blog e o recomendarei, parabéns.

    E continuando, o nosso mercado com certeza em 3 ou 4 anos, no mínimo, (e se até lá essa crise na Europa continuar) só perderemos em receitas para os ingleses da Premier League, e não vejo boas perspectivas para os próximos 5 anos da economia da Argentina não, vão continuar estagnados pelos déficits de inflação alta que ainda precisam corrigir, sem contar que as cotas de TV lá são provenientes de uma TV estatal, portanto não haverá evolução..
    Na américa latina nos próximos anos eu vejo (na minha humilde opinião) que o futebol que mais crescerá em termos de mercado serão os Brasileiros, os Chilenos e os Equatorianos que pegaram gosto pra coisa e depois viriam os outros, Mexicanos, Argentinos, Colombianos, etc..

    Ps.: aproveitando o comentário, queria que vc fizesse um post sobre o grande mercado norte-americano (ainda inexplorado) que é a MLS (Major League Soccer) e como possibilidade de equiparação, se por exemplo eles viessem à participar da Libertadores, essas coisas.. creio que daria uma boa noção de num futuro próximo se unir forças com a Concacaf e fazer frente com a liga dos Campeões lá da Europa..

    Um abraço amigo.

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  2. Nós agradecemos os elogios e ficamos felizes ao agradar nossos leitores.

    E sua sugestão de fazer uma matéria sobre os clubes da MSL foi registrada. Em breve, faremos uma análise sobre esse mercado que cresce cada vez mais.

    Um abraço;

    Moderação Sinopse do Futebol

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  3. VC sò esqueceu do resto do Brasil, que também tem futebol.

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